PERSONAGEM SINISTRA DA HISTÓRIA DA VILA - O CORVO
O povo das montanhas do concelho de Pampilhosa da Serra, sofreu não só agruras de viver em terra inóspita longe de tudo, e cuja riqueza florestal foi delapidada sem rei nem roque;sentiu, igualmente, mão férrea e despótica dos poderosos, que oprimiam vexavam, extorquindo, foros mais pesados que jugo de canga .
Nos séculos XVII e seguinte, "paupérrima" vila da Pampilhosa sofreu tirania de senhor da terra, tudo podia e tudo fazia.
Poderia começar pelo costumeiro " era uma vez ", donatário poderoso rico senhor do prazo de São Vicente da Beira,actualmente freguesia do concelho de Castelo Branco, seu nome Paulo Caldeira de Brito. Casou em inicio do século XVII, com Dona Maria de Andrade, do casamento houve geração.
A favor do primogénito Pedro Caldeira de Brito, instituiu morgadio da Feteira, na vila de Pampilhosa.
Aquele vinculo passaria por herança a posse de um neto, Vicente Caldeira de Brito, natural da vila da Sertã. Este casou com Dona Paula Froes de Figueiredo,vindo viver para a nossa Vila.
Deste enlace nasceram três filhas D. Ana Luisa, D.Catarina D, Inocência.Somente a primeira teve descendência do matrimónio com Rodrigo Jácome Raimundo de Noronha, fidalgo da Casa Real morador na Vila de Tomar ; curiosamente viria ser padrinho de baptismo do nosso quarto - tio avô, Simão Cortez Barreiros , filho de Simão Fernandes Barreiros e Josefa Maria Cortez. relacionamento entre Rodrigo Jácome e Simão Fernandes, teve origem no facto daquele nosso antepassado, se dedicava ao fabrico de telhas, fornecia as fabricas de Tomar. A telha transportada da Pampilhosa e da Telhada em mulas , chegando a formarem -se caravanas com 50 muares.
Vicente Caldeira de Brito, homem truculento,mulherengo, teve inúmeros filhos das criadas , e de outras mulheres suas amantes,
De tal sorte fazia vidairada, a " legitima " voltou para a Sertã ficando , marido na Pampilhosa.
Quando faleceu Dona Paula deixou escrito, queria ser sepultada na igreja matriz da Sertã; nem morta desejava voltar a Pampilhosa.
Vicente Caldeira iria viver mais vinte anos, após falecimento da mulher. Nesse hiato continuou comportar-se do mesmo modo, exigindo pagamento de foros exorbitantes aos rendeiros das terras, e coleccionar mulheres como sultão otomano, procriando filhos, deixando inúmera bastardia.
Quem não pagasse foros arbitrariamente estipulados sem qualquer respeito pela lei, veria ser-lhe confiscados colheitas, casas e gados.ficando muitas vezes sem nada, por isso, alguns decidiram abalar para outras paragens.
Era temido e odiado. Com falecimento, bens passaram a posse do sobrinho Custódio Castelão de Brito Leitão , que seguiu a cartilha do tio.
As terras do morgadio da Feteira, abarcavam grande parte do território das freguesias da Pampilhosa, Machio e do Cabril. Um latifúndio e peras.
As patifarias foram tantas, memória popular conservou lembrança das provações infligidas.Desse tempo permaneceu até aos nossos dias a cantilena
" Corvo negro do pecado não me leves o meu gado que este gado não é meu é São Bartolomeu que disse que o guardasse eu "
Aqui o corvo era Vicente Caldeira, sabemos Vicente é nome dado pelo povo a ave corvina, pecado referencia a "pecaminosa" vida pessoal
O significado profundo reside,quando executores das penhoras do senhorio, pretendiam levar para pagamento rebanhos , os desgraçados serranos em desespero de causa recitavam a "ladainha" ; claro, sem resultado
Assim, Vicente Caldeira entrou na lenda do concelho da Pampilhosa como exemplo de sinistra criatura.
Imagem mostra pequeníssima parte dos domínios do "Corvo"