O verão de 1943, foi período de afirmação da vitalidade e influencia da Igreja Católica, na sociedade do Município de Pampilhosa da Serra. O congresso eucarístico realizado, em Julho, levou a vila multidão calculada em 5000. pessoas,nunca haviam presenciado nada semelhante.
O pároco Padre Américo Braz da Costa, prior da freguesia grande obreiro do acontecimento, justamente felicitado pelo Senhor Bispo-Conde de Coimbra, D. António Antunes; talvez com um pouco de vaidade , julgou ter capacidade conduzir a vontade popular , a seu belo prazer.
No inicio de Agosto de 1943, apareceu no Jornal Comarca de Arganil, na secção de " Festas e Romarias" noticia, lembrando, no dia 15, se iam realizar na Pampilhosa festas em honra de Nossa Senhora do Pranto, cujo programa além da componente religiosa teria,quermesse e arraial.Para concretizar os festejos,havia sido constituída comissão de rapazes da qual faziam parte , Dionísio Mendes, Zé Gerúndio , Fernando Borges, Zé Morgado,Avelino Marques,e Dionísio Veiga, entre outros.
Quando tomou conhecimento desta intenção, senhor Prior,mandou para o mesmo Jornal , comunicado , onde escrevia " A noticia da Comissão não é exacta,porque a legislação eclesiástica diocesana. não permite a promoção de festas religiosas, uma vez que não haja abstenção de arraiais.
Por isso fazemos saber ao povo católico desta freguesia que no dia 15 não haverá festa em honra da Senhora do Pranto, nem quaisquer celebrações religiosas, como se afirma na referida local" .
O Prior se avinhasse, teria agido doutra maneira.As festas realizaram-se como havia prometido a comissão , os donativos afluíram de todo lado, com relevo para a colónia Pampilhosense residente em Lisboa. O comércio local, por recursos próprios, e angariados junto dos seus fornecedores contribuiu generosamente.Em resumo, meios, não faltaram; programa da festa decorreu da seguinte forma:
Dia 14, houve lançamento de girandolas de foguetes com duração e ferquência inéditas na Pampilhosa.No dia 15 Domingo,alvorada as 7 horas da manhã. Seguidamente os elementos da comissão e outras pessoas, que se dispuseram ajudar , andaram numa azafama anunciando nas povoações da freguesia inicio da festa. Enquanto decorreu a missa ,não houve qualquer manifestação de carácter profano. Bateu a 1 hora da tarde , e lançamento de foguete tipo " tiro de canhão ", anunciou final da celebração.
A comissão de festas acompanhada de muito povo, foram esperar ao sitio do Casalinho , na entrada da Vila, para receberem a tuna " Águias da Louzã " contratada para abrilhantar os festejos.
Mal os músicos se apearam da camioneta da carreira,começou estralejar ensurdecedor de duas centenas de foguetes , lançados de diversas colinas em redor; dirigiram-se para o centro da povoação, tocando linda marcha, entusiasmo do povo ia aumentando, não só as pessoas haviam assistido a missa , mas também muitas foram chegando de toda a freguesia encheram a rua Rangel de Lima, e restantes ruas por onde a Tuna desfilou.
Na quermesse armada no largo da feira, as rifas depressa esgotaram.Estava dia de sol radioso muito quente e juventude serrana, deu largas a alegria cantando e bailando, ao som musica da tuna, e de guitarras e harmónios. Surgiram rodas de bailarico por todo o recinto.
As 11 horas da noite, começou a ser queimado fogo de artificio, quase sem interrupção durou até as 5 da manhã, quando queimaram o castelo, ultima peça de fogo, só nessa ocasião as pessoas debandaram , ao som de guitarras e concertinas.
A " tuna " antes de voltar , a Lousã na quarta-feira, ainda percorreu as ruas da vila tocando o hino do 15 de Agosto, estreado na ocasião , da autoria do mestre da tuna Sr, Artur Gonçalves,
Quem assistiu dizia ter sido festa memorável ; atitude do Prior Américo Braz da Costa, contribuiu para ligar ainda mais o povo da Pampilhosa ao significado do 15 de Agosto.Devemos estar gratos "Deus escreveu direito por linhas tortas".
Termino esclarecendo , a Filarmónica da Vila não foi convidada, naquele tempo por falta de apoio estava a beira de acabar.
A foto foi tirada, precisamente, em Agosto de 1943.
O golpe de estado de 28 Maio 1926,levado a cabo por militares, politica e intelectualmente pouco preparados,esteve na genese do inverno demográfico que ainda hoje , afecta muitas regiões de Portugal.
No concelho de Pampilhosa da Serra, na década de 1920, criação de gado caprino,seria uma das principais fontes de rendimento, das populações.Igual situação se verificava noutros municípios, nomeadamente, denominada Comarca de Arganil, ( Góis , Pampilhosa e Arganil ), também em vários situados nas zonas montanhosas de Portugal.
Com objectivo, de " disciplinar " apascentamento de gado caprino em terreno alheio, promulgaram os dirigentes da ditadura militar , Decreto nº13658 de 23 de Maio de 1927, cujo artigo 23º estipulava :
Só é permitido, possuir cabras , não estabuladas, aos proprietários ou arrendatários de terrenos bastantes, para apascentar este gado e sempre mediante licença da câmara municipal, requerida e renovada anualmente, que cobrará taxa fixa por cabeça caprina, devendo os requerentes ser pessoas idóneas para assinar termo de responsabilidade pelos danos causados.
& 1º Os donos de gado caprino, que invada propriedade alheias, ainda que possua a licença passada pela câmara ou transite de noite fora das propriedades onde tenha licença par pastar, incorrem nas penas fixadas nos artigo 44º da reorganizarão dos serviços de policia florestal, aprovada pelo decreto de 3 de Novembro 1926.
& 2º Os donos dos prédios invadidos por gado caprino poderão apreende-lo na presença de duas testemunhas, e entregá-lo a câmara municipal na sede do concelho, ao regedor da respectiva freguesia ou aos guardas florestais e guarda republicana, no caso de existirem na localidade.
O efectivo caprino no Município de Pampilhosa da Serra em 1930 ultrapassava duzentas mil cabeças.Esta legislação provocou elevado numero de querelas na justiça, e conflitos entre pessoas e mesmo, entre aldeias vizinhas.
O regime Salazarista, consolidado pela Constituição política de 1933, não revogou esta legislação, pelo contrário agravou-a com apropriação dos baldios.
Durante a década 1930, a população, tentou resistir, mas coimas, e a vinda de mais guardas florestais, conduziu ao desanimo.
A licença camararia custava $50 centavos por cabeça, quem tivesse 20 cabras, pagava 10$00, um dia de salário de assalariado rural. A multa estabelecida pele artigo 44º. era 4$00, por cabeça, Uma enormidade,
No final da década assistiu-se venda maciça dos rebanhos, e debandada para Lisboa e Porto. Aquilo pensavam ser fonte de receita para Estado e Câmaras, resultou afinal, em ruína de pessoas e povoações.As políticas erradas são algumas vezes causas do mal dos povo. Aqui embirraram com cabras, e acabou tudo a "marrada ".
A aldeia das cabras na aldeia das Moradias, mostra actualmente o caminho a seguir, para recuperar o valor económico da caprinicultura. Quem sabe, o exemplo será principio de tempo novo. Oxalá. A cabra da foto parece tranquila quanto ao futuro
Confesso,deparei,algumas ocasiões,com dificuldades julgava serem qualquer mal entendido, ou má vontade impeditivas do prosseguimento de investigações para melhor entender o secular processo das mudanças políticas, económicas e sociais,verificadas na Vila de Pampilhosa da Serra.
Amavelmente, ouvia, " temos pena não podermos ajudar, não há documentação ". Tomei sempre como plausível a explicação; tive de calcorrear arquivos municipais e nacionais , onde eventualmente exista documentação histórica, referente a nossa querida Vila.
Consegui progredir, no entanto , continuo considerar, no acervo Camarário, deve repousar muita papelada , cuja consulta possibilitaria aclarar muita coisa,Suponho, Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra,mandou proceder ao tratamento do arquivo Municipal, espero ainda poder consulta-lo devidamente organizado.
Infelizmente importante documentação que deveria existir, perdeu-se por desleixo e incúria.Gostaria partilhar aquilo ocasionalmente descobri, num exemplar do Jornal Comarca de Arganil, e atesta a veracidade da nossa afirmação.
Escrevi podendo ser consultado no livro que publiquei baseado na temática do Estado Novo; o concelho de Pampilhosa da Serra, esteve para ser extinto, integrado no de Arganil.Foi tempo de angustia para os verdadeiros amigos da Terra.
A gestão do Município, seria exercida por Comissão Administrativa, nomeada pelo Governo, este porque a Câmara,estava sujeita a tutela do Ministro do Interior, era quem, efectivamente, mandava.
No final do ano de 1940, na perspectiva de extinção do Concelho, surgiu ordem para destruir " toda a papelada " do arquivo, deixando ficar somente livros de actas.
Assim procederam, cometendo crime de lesa passado histórico, deixando para sempre esquecidos, factos importantes da História da Pampilhosa da Serra.
Vale Grande é aldeia localizada,numa encosta no sopé de elevação, conhecida por Penedo Gordo do cume da qual se desfruta paisagem singular e arrebatadora ;lugar de encantamento. Administrativamente pertence a freguesia de Cabril, no Município de Pampilhosa da Serra.
Não pretendo dissertar acerca da valia turística e de lazer da povoação, nem da Barragem de Santa Luzia fica próximo, trouxe aqui hoje, está relacionado com fundação da capela aldeã.
Segundo documentos devem ainda existir no cartório da igreja paroquial de São Domingos, do Cabril , a orada, foi construida e aberta ao culto no ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 1866.graças a iniciativa do reverendo Padre José Fernandes Moradias, nesse tempo pároco em Vidual de Cima, residindo no Vale Grande.
Inicialmente a capela seria pequena e acanhada, todavia, passados poucos anos também, por diligencias do mesmo sacerdote, foi ampliada,ficando com as dimensões actuais.
O padre Moradias como era conhecido, natural da Vila de Pampilhosa, viveu algum tempo , segundo informações de familiares nossos, na barroca das Botelheiras, próximo de Vale Covo,no arrabalde vila.Faleceu em 1883, no Vidual de Cima , idade 78 anos.
A padroeira escolhida Nossa Senhora das Febres, porque no Estio, caudal da Ribeira de Unhais , corre ao fundo do povoado, diminuía drasticamente , ficando, poços de agua parada transformados em viveiros de mosquitos, que provocavam sezões, ou febres do paludismo. Curiosamente perto encontramos, lugar do Vale Mosqueiro.A salubridade da povoação melhorou com aumento da água , no leito da ribeira, como consequência da construção da Barragem.
No templo além da imagem da padroeira, encontram-se as imagens do Sagrado Coração de Maria, Santa Eufémia e , curiosamente Santa Luzia.
Estranhamos alguém tenha feito promessa de construir capela em honra de Santa Luzia, quando mesmo ao pé já existia uma imagem da Santa.Nunca são demais os louvores aquela, ou outro Santo ou Santa, da Igreja. Talvez quem prometeu pretendesse dar nas vistas por ostentação e vaidade.Fica dúvida , mas é esquisito, lá isso é.
A capela do Vale Grande tem merecido cuidados de conservação dos Vale Grandenses, continuando ser marco da fé e tradição dos filhos da terra , e daqueles como eu, gostam de vez enquanto visitar a aldeia.
Vista, dique albufeira de Santa Luzia, e Penedos do Vale Grande.
Neste pandémico de 2020, cumprem-se 70 anos da inauguração do serviço de agua ao domicilio, na Vila de Pampilhosa da Serra.
Efeméride importante não devia passar sem ser assinalada, vai daí "passei " a comissário das comemorações, nessa qualidade , cumpro encargo resolvi abraçar com prazer, ciente da responsabilidade.
Seria a primeira vez na longa história da vila, um Ministro, no caso o das Obras Públicas, visitava oficialmente o burgo.
Sua Excelência vindo de Castelo Branco, seria recebido pelas autoridades concelhias,na Ponte sobre o Rio Zêzere em Cambas, no vizinho Município de Oleiros ; eram 9 horas da manhã de claro e ameno dia de Setembro.Sem delongas, rumou a Pampilhosa , onde comitiva aguardada por muita gente , entrou na vila ao som do Hino Nacional, tocado pela Filarmónica, debaixo de estralejar de dezenas de foguetes.
Organizado cortejo, calcorrearam as ruas da povoação, devidamente atapetadas da verdura de juncos e urze, engalanadas com arcos triunfais , das janelas , pendiam colchas. Sem demora Ministro e demais individualidades , visitaram a Casa de Saúde de São José,no cimo da Avenida, liga a estrada nacional,(Rua Rangel de Lima) ao antigo, largo da Feira.
Na casa de Saúde funcionava posto de primeiros socorros, o Ministro enteirou-se das necessidades mais urgentes; passo apressado, encaminhou-se para o Largo da Feira, onde cortou fita, inaugural do primeiro marco fontanário.
E sempre em " passo de corrida ", encaminharam-se para o salão nobre dos Paços do Concelho , na Praça Barão de Louredo, onde se realizou uma sessão solene, O senhor Ministro,proferiu breve alocução muito elucidativa da situação económica e social vivida então na vila:
A vossa terra é pobre, mas espero que, com a boa vontade do Governo, da Câmara Municipal, e de todos vos, ela irá adquirindo, a passo lento,mas com segurança,aquele lugar que merece,entre as outras da sua categoria.Hoje foi inaugurado oficialmente, este grande melhoramento,que considero dos primeiros de qualquer terra civilizada.Se Deus quiser. outros se lhe irão juntar, não só nesta vila, mas também em todas as povoações do vosso concelho.
Agradecendo a maneira cativante como havia sido recebido; cortou a fita simbólica na fonte monumental , fronteira ao edifício camarário, a qual estava adequadamente, preparada para o efeito, apesar de quase centenária,somente a partir daqela ocasião de todas bicas jorrava abundante caudal . Repetiu-se acto de abertura de agua, noutro fontanário , colocado ao sitio da Aldeia Velha, no caminho da eira de Santo António.
A Câmara havia preparado bem fornecido copo de agua, que ofereceu a todos, incluindo os elementos da Filarmónica.O governante pouco comeu; sem perder tempo, deixou a vila onde permaneceu cerca de hora e meia. Seguidamente,as individualidades , presentes dirigiram-se a Barragem de Santa Luzia, onde a Companhia Eléctrica das Beiras, proprietária do empreendimento preparou, lauto almoço .
Foram proferidos discursos da praxe, terminado banquete; O Ministro, num barco a motor da Companhia, fez travessia da albufeira; de jeep, percorreu o túnel do Alto Ceira, enteirou-se das obras a decorrer na povoação do Porto da Balsa, rumando, finalmente, no carro do Governador Civil de Coimbra, para a cidade do Mondego onde pernoitaria.
A vila de Pampilhosa da Serra, terá sido a ultima sede de Concelho de todo Portugal Continental, a dispor de água ao domicilio.
A visita ministrial tão rápida , deu origem ao comentário, "pareceu visita de médico". Poderia ter sido, nesse tempo progresso por estas bandas estava doente, quiçá em coma.
Cumpri tarefa, já agora onde param os fontanários, vistosos, na singeleza da pedra de ançã onde despontavam as torneiras.? Se alguém souber gostaria conhecer...