Entre final da década 1920, inicio da de 1930, a Vila de Pampilhosa, era classificada como espécie de " sertão africano" para onde se enviavam perseguidos políticos,condenados a pena de fixação de residência ;a terra considerada local degredo interno.Tal facto originava protestos da Câmara Municipal, talvez por isso, hierarquia da Igreja Católica, enviava a estas paragens, missionários para elucidarem o povo.
Iniciada dia 29 de Junho de 1930,decorreu na vila missão religiosa,com intervenção de dois pregadores, os Padres Ferreira, e Campos , da diocese do Porto.
Aqueles sacerdotes sendo grandes oradores, as suas oratórias prendiam a atenção do povo. Condições meteorológicas, favoráveis, de inicio do Verão tempo das cerejas, e regas do milho.Havia mais disponibilidade por parte dos crentes.
Fieis vindos de todas aldeias da freguesia afluiam em grande numero a igreja Matriz onde rezavam o terço, e escutavam os inspirados missionários.
Durante algumas noites havia procissões de velas, com recitação do rosário que percorriam ruas da vila, circundantes a igreja.
Quem participava regressava a casa se possível com mais fé ainda, tão profunda a impressão causada; para lembrar aos vindouros, relevante acontecimento, pároco da freguesia padre Aníbal, decidiu mandar colocar no Cabeço de Nossa Senhora de Fátima, sitio sobranceiro a vila; cruzeiro recordando frutuosa missão; que terminou a 13 de Julho .
No cabeço existem agora três cruzes,simbolizando Calvário de Cristo. A do centro do conjunto é o cruzeiro " missionário " há precisamente 90 anos se ergueu, sendo naquela época avistavel léguas em redor, transformou-se num símbolo recordatório quando Pampilhosa da Serra foi terra de "missão". Quem diria. ?
Leio aqui acolá, escritos cerca de singela ermida, mandada construir num sitio ermo , perto do dique da barragem que da Santa recebeu nome. Informações desencontradas, assim decidi , pôr tudo em pratos limpos.
O correspondente do Jornal de Arganil, em Lisboa,saudoso patrício Dionísio Mendes na crónica ,publicada naquele periódico em Setembro , de 1933, relata conversa com pampilhosense. Conta-nos os seguintes factos :
Quando por acaso entrou e sentou-se numa mesa na leitaria " ESTRELA DA MANHÃ " no Largo de São Paulo, na zona do Cais do Sodré, depois de haver sido servido, por atencioso empregado, aproximou-se dele senhor de aspecto distinto, se apresentou sendo Francisco Pedro Simões, proprietário da casa , meteram conversa; o sr. Francisco, informou ser natural da aldeia Malhada do Rei, Freguesia de Unhais-o.Velho, e há 31 anos não ia a Pampilhosa da Serra, onde finalmente havia voltado,recentemente,ficando com as melhores impressões do que viu. teceu algumas considerações, que passo adiante , para não ser fastioso,
Continuando, confidenciou a Dionísio Mendes:
"Sabe fui eu que mandei construir nos penedos do Vale Grande , a capelinha onde coloquei, Santa Luzia, promessa que fiz quando terrível doença quase me cegou completamente.Fui eu também que mandei erigir o cruzeiro, que encima o penedo mais alto no sitio de Porte de Caminhos, nos limites de Vidual de Baixo e Cabril.
Fui agora assistir ao 1º aniversário da inauguração, como é minha devoção e dever, o qual teve lugar no passado dia 8 (....).O Sr. Padre José Lourenço., meu bom amigo , digno pároco do Vidual, organizou uma peregrinação desde aquela localidade, até ao local da capelinha, durante a qual um rancho de meninas ensaiadas pelo referido pároco,entoou lindos cânticos religiosos, que me deixaram surpreendido. No dia 9 as 6 horas da manhã, foi celebrada missa tendo assistido a ela muito povo, o que me sensibilizou "
A conversa foi mais longa, irei revelar outros pormenores, num próximo apontamento.
Fica definitivamente esclarecido capelinha de Santa Luzia, foi inaugurada em 8 de Setembro, de 1932, não em 1930, como erradamente informam por exemplo, na Wikipédia e apontamentos autarquicos.
Curiosamente Francisco Pedro Simões,possuiu, importante loja de artigos eléctricos de Lisboa, na Rua 1º de Maio esquina para Rua Luís de Camões, Santo Amaro, frente a Carris;ainda conheci no tempo que frequentava a Escola Industrial de Marquês de Pombal. em Alcantara, muitas vezes apanhava ali eléctrico 15 para Belém.
Hoje quedo por aqui, mas podem aguardar que a tarefa continua enquanto for capaz...
Comemora-se neste ano de 2020, o primeiro centenário que a veneranda imagem de Nossa Senhora do Pranto foi entregue à paróquia da Vila, oferecida pelo benemérito, Artur Neves, bem sucedido comerciante em Lisboa e natural da Pampilhosa. O pároco naquele tempo, José António da Silva Alvaro, foi alvo de contestação pelos republicanos radicais, como se pode verificar, pelo documento:
Ambiente político de cortar à faca, reverendo solicitou atestado, transcrevo o texto acima.
Exmº Senhor Juiz de Paz do distrito de Pampilhosa da Serra
José António Álvaro , pároco desta freguesia, tendo conhecimento de que é acusado de fazer propaganda, contra o regime republicano, a propósito do que se está a proceder a um inquérito judicial na Comarca de Arganil
Vem requerer a V.Exª se digne atestar qual o comportamento moral e civil frisando bem se é do seu conhecimento que o requerente tenha feito aquela propaganda.
Pampilhosa da Serra, 13 de Agosto de 1919
José António da Silva Álvaro.
Atesto que o requerente tem bom comportamento moral e civil e que não fez propaganda contra o regime, pelo contrário, o seu voto e o dos seus amigos foram para os Drº Moura Pinto,unionista, e António Dias, democrático, que foi eleito.
Pampilhosa da Serra, 13 de Agosto de 1919
O Juiz de Paz
António Vicente
Artur Neves, fervoroso católico amigo do Padre Álvaro, havia feito promessa doar imagem da padroeira à Paróquia; numa cajadada matou dois coelhos, cumpriu palavra e ajudou o amigo. Causando viva impressão a qualidade, elegância e realismo da imagem; assim aos olhos do povo o Padre "marcou" pontos.
Polémicas à parte hoje os pampilhosenses consideram seu património a dádiva do patrício; que infelizmente faleceu com pouco mais de 50 anos em 1932.
Assinalando centenário da entrada na igreja de imagem de Nossa Senhora do Pranto, nossa Patrona, cumpri dever de cidadania, não deixando passar em claro a relevante efeméride (1920-2020)
O cemitério paroquial da Vila de Pampilhosa da Serra,antigamente dispunha de único portão de acesso . Numa dos pilares que ladeiam, está inscrito conjunto de caracteres, indicando as iniciais do benemérito,doador da construção.(A.M.M.N.)
Confesso sempre me intrigou,finalmente consegui decifrar, conjunto das letras gravadas na pedra.
A data da construção do cemitério 1863, para cumprir a lei que proibia enterramentos nas igrejas. O município, não dispunha capacidade financeira. Não havia muitos locais na vila, com condições adequadas.
Os terrenos onde está o cemitério, faziam parte da quinta de São Martinho, naquela época, tinha limites na ribeira da Pampilhosa, e na montanha do Cabeço da Urra, ao cimo sitio do Vale Castanheiro.
O espaço seria oferecido , pela família,Melo Nápoles, senhores do Morgadio da Quinta da Feteira, residentes, na vila na casa hoje pertença de herdeiros do Sr, José Augusto Barata.
Quem se empenhou para que o cemitério se construisse foi Sr. Padre António Maria da Cunha de Melo e Nápoles, pároco na Várzea de Góis, irmão de Dona Maria da Natividade de Melo Figueiredo e Nápoles, referida neste espaço no post " Enterro da Fidalga ".
Além da ajuda para resolver, questão do terreno,Padre António Nápoles, ofereceu portão ainda existente e cantarias que servem de suporte.Sendo assim conjunto tem 157 anos.
O reverendo padre faleceu em 15 de Outubro de 1891, na vila de Góis, teria 60 anos.
A câmara municipal da Pampilhosa ,na sessão de 6 de Fevereiro 1927, por proposta do Administrador do concelho,Sr. Manuel Antão Dias, aprovou deliberação onde se propunha atribuir a Rua do Pedregal, uma das principais da Vila, nome daquele eclesiástico, em atenção, ao facto de " ter sido sempre um homem empreendedor, e a ele se deverem alguns melhoramentos na vila"
Aquela deliberação aprovada em período a seguir ao golpe militar de 28 Maio de 1926, demonstra os monárquicos da Pampilhosa , consideravam os ventos eram favoráveis.
Estavam equivocados; a deliberação, não seria cumprida, porque os republicanos da terra, se opuseram.
Aqui para nós ainda bem, está melhor, Rua do Pedregal, como sempre. Sr. Padre tem iniciais do nome gravadas no portal que doou, António Maria Melo Nápoles ; assim tudo está justo .Foto entrada cemitério da Vila, na actualidade
Confinado,parece capacidade recordar factos ocorridos em tempo já longínquo,ganha mais acuidade.
Outubro de 1959, imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, passou pela Paróquia de Pampilhosa da Serra , onde permaneceu durante uma semana,na qual se realizaram na vila, e toda a freguesia,actos de oração e pregações em honra da Virgem de Fátima.
Com presença dos Bispos da Diocese de Coimbra, celebrações apesar das condições climatéricas terem sido adversas; choveu muito e a ventania causou estragos nas ornamentações, e iluminação que alindavam as ruas , nada arrefeceu entusiasmo e devoção mariana do povo .
Quinta-Feira 8 de Outubro,apesar dos cerrados aguaceiros, intermitentes, realizou-se procissão das velas, além dos fieis no cortejo havia traços luminosos de velas , nas janelas , nos muros, em todo lado, espectáculo feérico na noite escura foi deslumbrante.
A procissão percorreu trajecto inédito; não sei se voltou alguma vez mais ocorrer.Saindo da Igreja Matriz, a imagem de Nossa Senhora de Fátima,passou pela rua Rangel de Lima, até ao ribeiro, seguindo a praça, rua da Quinta,rua do Pedregal, subindo depois a Misericórdia, chegando ao Barreiro, passou perto da casa do nosso avô João Carloto, já na altura,incapaz de ir a igreja , chorou comovido quando imagem parou junto a oliveira onde sentado esperava a procissão. Até ao fim nunca esqueceu esse momento.
Cortejo avançou para Rua do Calvário na Burrieira, desceu Rua de São Pedro, na casa branca, voltou direcção Misericórdia, passou frente a casa do Ti Zé Dias, na Praça , seguiu para lado casa de José Augusto Barata, direito a Aldeia Velha, eira de Santo António, atravessando a Ribeira , nas passadoiras de Santo António. numa ponte de madeira , construida para o efeito, rumando a Foz da Moira, estrada de Coimbra, Avenida , largo do Mercado, São Pedro, Rua do Perrinho, de novo largo da Feira,até a igreja , onde tudo se concluiu com vibrante aclamação da multidão .
Foi tal impressão causada; durante muito tempo se não falava de outra coisa na vila de Pampilhosa da Serra, nunca tal procissão se fizera. Diziam Nossa Senhora , merece tudo.E assim foi....
Década de 1920, na vila da Pampilhosa,exemplo de inúmeras terras por todo País , caracterizou-se por ambiente de quase guerrilha permanente , entre elementos eclesiásticos e poder político.
O Partido Democrático, surgido do desmoronar do " velho " Partido Republicano Português ( P. R.P.), no qual militavam republicanos radicais da Pampilhosa, liderados pelo notário Eduardo Carlos,liderou, quase sempre a partir de 1912,a cena politica da vila.
Eram frequentes conflitos com os párocos, do concelho.As coisas agudizaram-se de modo virulento,após queda do governo de Sidónio Pais,no seguimento do seu bárbaro assassinato.
O sidonismo,apoiado pelos monárquicos,era visto pelos republicanos mais esquerdistas como prenuncio de eventual restauração da monarquia.
Pároco da Pampilhosa , padre José António da Silva Álvaro,conhecido popularmente , por " golipa ",nunca escondeu indefectível simpatia pelo regime monárquico.
Este facto enfurecia os " democráticos " da vila, tudo faziam para infernizar a acção do Prior.Agravada a situação porque havia republicanos influentes,católicos praticantes, e como tal defendiam o vigário.
A fim de consolidar a posição do padre Álvaro,os católicos Pampilhosenses,promoveram visita do Bispo auxiliar de Coimbra, D, António Antunes, que decorreu entre os dias 3, 4, e 5 do mês de Junho de 1920.
Motivo da sua visita, administrar sacramento do crisma, a cerca de 200 crianças da freguesia, cerimónia decorreu nos dia 4 e 5 do mês citado.Além de ter participado numa concorrida procissão pela ruas do burgo , "levando Sua Exª Reverendíssima sagrada custódia tesouro, da igreja da vila"
Durante homilia no final da estadia Bispo de Coimbra, afirmou ter ficado ciente do sentimento católico da maioria dos habitantes da freguesia.
Não restavam duvidas alem de motivos religiosos, visita pastoral, teve inequívocos fins políticos e demonstração da força da igreja, na localidade, até pelo perfil do dignitário enviado.
D. António Antunes , natural da freguesia de Barreiras, no concelho de Leiria,seria Bispo titular da diocese em 1936,a ele se ficou a dever casa de retiros diocesana, renovação do C.A.D.C.( Centro Académico de Democracia Cristã ), do qual foram membros António Salazar e Gonçalves Cerejeira; e seminário menor da Figueira da Foz, onde estudaram muitos seminaristas naturais do concelho da Pampilhosa.
Este Bispo homem determinado,combativo, foi apoiante fervoroso do Salazarismo, faleceu aos 73 anos , em 1948.
O padre Álvaro, esteve muitos anos a frente da paróquia, era truculento, nunca escondeu animosidade ao regime republicano ; tal facto motivou processo em tribunal, cuja base é a carta, que deixo aos meus queridos leitores.O resto vou contar aos poucos.
Neste espaço dei a conhecer origem do nome " Lobatos " aldeia do alfoz da vila da Pampilhosa da Serra,rincão do qual guardo ternas memórias da infância.
Prometi na ocasião, escrever apontamento semelhante acerca da aldeia do Signo Samo,terra da naturalidade de uma nossa avoenga Isabel Bernarda Antunes.Promessas são para cumprir, sendo assim aqui estou nessa tarefa.
Confesso gosto do Signo Samo, e considero pitoresca e agradável a sua posição geográfica com horizontes dilatados para o vale do rio Zêzere
Nome tem sido motivo de várias interpretações, fantasiosas , algumas com conotações, mágicas e semitas.
O resultado das investigações levei a cabo , permitiram sem margem para dúvidas afirmar povoamento, teve origem na tribo dos " lowatas " tal tal sucedeu com Lobatos e lobatinhos, aldeias próximas.
Signo-Samo, povação sendo conhecida, antigamente, por Signo-Saimão, recebeu nome por estar situada na encosta do monte designado desde período remoto como " montem qui vocatur signo salomon " ou seja , monte a que chamam signo - saimão.
Esta elevação ainda hoje está numa extrema importante, pois aqui passa a linha demarcação dos concelhos de Oleiros e Pampilhosa da Serra.
Para vincar pertença foi colocado marco, no qual se inscreveu símbolo, hexalfa ou estrela de seis pontas, para assinalar a extrema, qual "assinatura " simbólica, de idêntico valor ao que mais tarde se irá chamar "assinar de cruz ".
Os berberes Lovatas, consideravam a estrela de seis pontas marca importante e sagrada..
Nada de quebranto , feitiçarias ou reminiscências judaicas, na encosta virada a norte existem, os vales do Signo Samo, e de Arca, este ultimo, onde havia construção de pedra, forma quadrangular, junto de nascente, " arca de água ".
O monte existia antes do povoado; assim dele provém o topónimo;Signo -Samo significa aldeia do monte com mesmo nome.
A altitude da elevação 727 metros acima do nível do mar, fica adiante do cruzamento da estrada na direcção dos Lobatos