O governo Republicano em 1912, promulgou legislação permitindo aos municípios escolherem, de acordo com sentimento das populações, data destinada a feriado anual, ou como agora se designa , feriado municipal.
A Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, passado período de agitação, anti clerical, delirou consultar as juntas de paróquia, mais tarde 1918, passariam a ostentar o nome ainda perdura, Juntas de Freguesia.
Dessa consulta resultou indicação de 13 de Junho, dia de Santo António para esse efeito, atendendo aquele Santo merecia devoção maioritaria do povo do concelho, assim ficou estabelecido, conforme nota publicada no jornal A COMARCA DE ARGANIL numero 582 de 1912.
Durante duas décadas, pausa anual de âmbito municipal seria dia do Santo "casamenteiro " sempre com grande participação popular; a devoção antoniana, trazida desde a Idade Média, pelos frades de Santa Cruz de Coimbra, para região das montanhas da Cordilheira Central, estava e está arreigada na tradição das gentes serranas.
O golpe militar de 28 de Maio 1926, venceu a Republica democrática e parlamentar, contando com apoio dos adeptos da Monarquia, derrubada em 5 de Outubro 1910.
Na Pampilhosa da Serra o partido monárquico sempre teve força, em 1932, a elite dos monárquicos para " varrer " influencia do republicanismo no Município, teve arte e manha de rebuscar no baú da História , 10 Abril de 1385, dia segundo documentação antiga, D. João I confirmou titulo de vila a Pampilhosa; promovendo, igualmente culto a Beato D. Nuno Alvares Pereira, símbolo do nacionalismo Salazarista .
Quem lançou a ideia, esqueceu no concelho existe povoação Fajão, é Vila já foi sede de concelho, exaltar só uma não é curial.O posso quero e mando imperou .
Dia de Santo António, como data de feriado municipal acabou, para tristeza do povo , apesar disso liga mais a 13 de Junho que a 10 de Abril.
A tradição é desrespeitada , algumas vezes , para justificar o injustificável. Viva dia de Santo António, Santo querido, também, no concelho de Pampilhosa da Serra.
Na terça-feira 19 de Fevereiro de 1907, pelas 11 horas da noite o templo sede da freguesia de Nossa Senhora do Pranto, diocese de Coimbra, foi rapidamente consumido pelas chamas de pavoroso incêndio, perante estupefacção do bondoso e respeitado pároco padre Urbano:
A maioria da população dormia, frio intenso convidava as pessoa a fugirem da rua, a Vila parecia um ermo, ninguém acorreu tentar debelar o sinistro, segundo consta o que devia ser salvo já havia sido retirado da igreja, as paredes e telhado ameaçavam desabar.
O Jornal Comarca de Arganil pela "pena" de Eduardo Carlos, então jovem de vinte e dois anos, correspondente do periódico, publicou apontamento acerca do acontecimento onde se lê :
Já antes do incêndio todos reconheceram o seu precário estado, e se deste modo não fosse destruída o desabamento era certo devido ao abandono que a votaram à muitos anos.
O que é certo que desde há muito a imprensa e principalmente a COMARCA se ocupou do seu estado mas baldados foram todos esforços e por mais se pedissem providências tudo foi em vão. Era fácil observar o abandono! Bastava olhar-se para as portas principal e da parte norte da igreja para fazer uma simples ideia do resto!
Hoje a missa realiza-se na Capela da Misericórdia única pela sua acomodação, está em melhores circunstancias. Mas se a igreja restava em miserável estado, o desta não é melhor (...).
Quando hoje ainda que seja em qualquer aldeia das mais sertanejas, vemos as capelas e igrejas acharem-se o mais reparadas e ornamentadas com toda a decência própria para o fim a que são destinadas, na PAMPILHOSA - vergonhoso é dizê-lo - encontra-se tudo quanto toca a templos sagrados no mais completo desprezo que é impossível imaginar-se!
Só quem vê e presencia.
Rematava: Seria o incêndio castigo por tal abandono? Não sabemos.
Acerca da capela da Misericórdia, coligi elementos, permitiram concluir, não fora diligencia do Padre Anibal Pacheco na década 1930, levar a cabo profundas obras de remodelação e reparação, hoje não teríamos templo.
Voltando a Matriz, conhecendo os factos com detalhe, parece também neste caso indignação e raiva poderiam ter incendiado tudo. Quem sabe? Certeza, a Casa de Deus ruiu por causa do fogo.
Acontecimento funesto marcou história da Pampilhosa durante dilatado tempo. A igreja nunca foi tão acolhedora e imponente como actualmente.
Recordar a efeméride, cumpro tarefa para mim útil, e contribuo para conhecimento do passado da terra onde vi, pela primeira vez, luz da Rosa Divina, nome atribuiudo ao Sol; pelo nosso inesquecível avô, Augusto Cortez.
Há oitenta anos, primórdios da segunda guerra mundial, tempo de dificuldades económicas, e penúria alimentar, no concelho de Pampilhosa da Serra,decorriam obras importantes dando emprego a centenas de trabalhadores. oriundos de todos cantos de Portugal, acorriam as serranias da Beira , em busca de trabalho,que garantisse pão , nem que fosse o que " diabo amassou".
A empreitada de construção da estrada nacional 40-2ª , ligação Pampilhosa a Castelo Branco, estava em plena execução.
Domingo 11 de Agosto de 1940, ao anoitecer grupo de indivíduos em "sessão" de copos na taberna do Ti António Barata, situada na povoação de Gavião, freguesia da Vila, envolveram -se em desordem, na sequencia de abundante consumo de bebida.
Dono da casa conseguiu com dificuldade acalmar os desordeiros, aparentemente, acataram ordens do taberneiro.
Foi sol de pouca dura , saindo da locanda para Sobral do Gavião, onde alguns se acomodavam; ali chegados, insatisfeitos, resolveram retomar a contenda, com maior violência, ocorrendo cenas de facadas.
Resultado: já de noite um trabalhador , natural do Paul concelho da Covilhã, foi transportado de maca, para Pampilhosa , apresentando várias facadas no pescoço cara e braços, múltiplas escoriações por todo corpo,provocadas por queda numa profunda trincheira, quando andava engalfinhado com colega natural dos Caneiros, concelho de Oleiros.
O ferido tratado pelo Dr. Luís Barateiro, na farmácia da vila, voltaria depois transportado , novamente, de maca para o Gavião.
Acusado de ter participado na refrega , um trabalhador , de 23 anos natural de Melgaço no Minho,seria preso; deu entrada na cadeia da Pampilhosa. Parece no entanto, rapaz nada teve a ver com a desordem, razão seria outra.
O numero de trabalhadores empregues na obra ascendia naquela ocasião a 400, exemplo do detido,muitos deles oriundos da província do Minho, namoriscavam as moças casadoiras das redondezas; iriam aliás resultar alguns casamentos, e idas para o rincão minhoto de algumas delas.
Claro rapazes da região , não aceitavam de boa catadura derriços dos forasteiros, quando podiam ser-lhes bons, não vacilavam , e... vá de vingança.
A batalha do Gavião além do álcool teve motivações ciumeiras. Aqui fica localização dos locais onde se desenrolou a refrega.
No Outono de 1932, inicio de Novembro,um acontecimento sacudiu pacato quotidiano do burgo pampilhosense.
A tesouraria da câmara municipal foi assaltada da gaveta foram subtraídas 20 notas ou seja dois contos de reis , conta calada para a época, se pensarmos o salário de um trabalhador era 8$00 , por dia; 20 notas seria preço de uma junta de bois. Lembro " nota " era designação popular da cédula de 100 escudos.
A tesouraria funcionava onde morava, a tesoureira na companhia dos seus dois filhos a casa ficava na Praça Barão de Louredo, demolida mais tarde.
Larápios entraram , pela bandeira da porta , abriram a gaveta do dinheiro, saíram abrindo com a própria chave duas portas interiores e fugiram
Apesar de terem sidos pressentidos pelos locatários, os gatunos lograram esconder-se sem serem reconhecidos.
O assunto passou a tema de todas as conversas, as pessoas estranharam, aparentemente não tivesse participado a ocorrência as autoridades a fim de proceder as investigações adequadas.
corria pela vila a giza de anedota, uma explicação : em determinada ocasião no prédio onde estava a tesouraria,realizaram -se sessões de espiritismo as quais acorriam numerosas pessoas de todas as classes sociais da terra. O médium falava com espíritos, no final da sessão aparecia o diabo, mas só as escuras, aterrorizando a assistência.E desaparecia sem deixar rasto.
Dado mistério rodeava o furto, ninguém se mexia para esclarecer, talvez, o diabo tivesse desaparecido com a "massa ".
Não sei imbróglio se esclareceu, quem não era da vila, lançava a velha ferroada " são coisas só acontecem na Pampilhosa ".
Este mês começou quente e seco, fazendo meditar no antigo aforismo "Fevereiro quente traz o diabo no ventre ". Oxalá não passe disso mesmo de um provérbio, pelo sim pelo não , quedemos atentos.
Por falar em atenção, no distante Fevereiro de 1965, tive de deslocar-me a Pampilhosa, por motivo relacionado com recenseamento militar, na altura,implicava começar preocupar-me com possibilidade de "malhar com o corpo " na guerra colonial. Felizmente fiquei por cá...
Nessa ocasião encontrei na Vila patrício acompanhado de mais dois amigos , numa amena cavaqueira, resolvemos visitar a Barragem de Santa Luzia,sitio onde já havia estado quando frequentava a escola primária , e o professor organizou excursão para visitarmos a central eléctrica no Esteiro.
Chegados ao Casal da Lapa, visto o dique da albufeira, e mais coisas em redor; não sei porque carga de água, lancei repto. E se fossemos ao cimo do concelho as Meãs ? Nunca lá fui. Verifiquei nenhum conhecia a aldeia.Abalamos
O transporte que dispúnhamos , um jeep , de sete lugares adequava-se as estradas que havíamos de percorrer.
Recordo entre Casal da Lapa e Unhais, caminho era ruim. dali as Meãs , não seria melhor , no entanto, tudo correu lindamente. Fazia frio; chegamos a aldeia, começou a nevar , intensidade dos flocos cobriu rapidamente o cume da grande montanha coroada pelo Pico de Cebola, aos pés da qual se aninha a povoação.
Estacionada a viatura fiquei surpreendido pelo aspecto do aglomerado populacional, Rio Unhais, com bastante agua, serpenteando pelo vale até desaparecer na direcção da albufeira de Santa Luzia.
Nas margens do curso de água, terrenos de cultura, de aspecto fértil ; casario e ruas da localidade com aspecto agradável a vista. Um dos motivos mais espicaçava desejo de conhecer as Meãs foi ter verificado no recenseamento de 1960, aquela aldeia era terceiro aglomerado populacional do concelho de Pampilhosa da Serra,depois da vila, e Dornelas do Zêzere. (Pampilhosa ,696 , Dornelas,650, Meãs ,382 ).
Com mais habitantes que a sede de freguesia A superioridade demográfica do alto concelho, resultava da possibilidade de trabalho, proporcionada pelas minas da Panasqueira.
As Meãs beneficiaram,também,com dinamismo da sua liga de melhoramentos; até 1958, ano da fundação da colectividade, aldeia estava isolada , sem vias de comunicação dignas desse nome.
Voltei um par de vezes , actualmente as Meãs , servida por boas vias de acesso , sofre , igualmente, declínio demográfico, consequência de forte surto migratório para França , e diminuição brutal da " lavra " das minas.
Continuo gostar visitar a povoação relembrar aquele distante ano pela primeira vez lá estive.
Quando a viatura deslizava pela então regular estrada de ligação a sede de freguesia Unhais - o - Velho, intensidade da queda da neve acentuou-se rapidamente , oliveiras pinheiros e castanheiros ficaram cobertos por manto branco oferecendo panorama deslumbrante.
A medida que íamos afastando a neve diminuía , alvura das lombas e cabeços ficando para trás; como afinal tudo na vida.
Aldeia há 30 anos, conforme foto livro " História do Regionalismo Pampilhosense " coordenado pelo Dr. António Lourenço ilustre regionalista e personalidade natural das Meãs.