Deus sabe, as vezes cogitei, quando viajava na camioneta da carreira da Vila a Lousã, para tentar adivinhar como seria estrada da nossa terra a capital do distrito,em tempos mais recuados.
Na minha infância o nosso avô materno , falava da " galera da Maria Pinheira"
Veiculo lendário transportava pessoas e mercadorias, desde o Farropo, com paragens no mítico sitio do Pepio, onde gente das aldeias do termo da Pampilhosa e cercanias de Pessegueiro , esperavam a " galera ".Verifiquei mais tarde aquela situação era recente.
Em 1890 não existia a Catraia do Farropo , nem o Pepio, ou a Catraia do Azevedo. Estes locais surgiriam na década de 1920.
Nos fins do século XIX, a estrada real Nº52 , direcção a Pampilhosa, estava parada em Vale de Cavalos, local corresponderia a Barroca de Valongo, na actual estrada nacional 112, a qual só chegaria a Pampilhosa no inicio da década 1930, depois de permanecer algum tempo parada nos Pereiros, sitio a seguir a aldeia das Moradias, pouco adiante do cruzamento para Vale Carvalho.
Nos Pereiros, a ultima paragem das camionetas da carreira e outros veculos automóveis; dai para diante até a Pampilhosa só em carros de bois ou a cavalo.
As distancias e paragens de Coimbra a Vila, eram na época 1890, as seguintes:
A Portela de Entre Capelos, correspondia a Portela do Vento, onde inicia a EN 112, e cruzamento da EN 2. Estrada Real 52 ( E.R.52 ), desde a Portela de Entre Capelos, ia pelo cume da serrania, seguindo aproximadamente limites do concelho de Góis, é o que a nota ( 1 ),refere. Os números indicam a quilometragem.
Consegui alcançar objectivo sempre prossegui : conhecer traçado da estrada antigamente. Bem vistas as coisas nem era muito diferente do que conheci em miúdo.
Ultimas notas Foz de Covelos, denominação atribuida onde começava a E. R. 52, a partir da E.R. 12 , actualmente , estrada da Beira.
Devo concluir referindo a Estrada Real 52, deveria terminar em Malpica do Tejo, no concelho de Castelo Branco, seria conhecida por " estrada dos pobres ", porque destinava-se a servir uma das paupérrimas e desconhecidas regiões de Portugal.
Sou natural de um concelho de montanha, indubitavelmente, o de relevo geográfico mais relevante em todo distrito administrativo de Coimbra. Segundo publicação oficial do inicio do século passado existente na minha biblioteca; território do município alberga, superiores a setecentos metros de altitude; as serras seguintes :
O pico ou serra de Cebola, altitude 1409 metros, a quarta mais importante elevação da secção continental nosso País, seguir a famosa Estrela, na Beira, a longínqua Larouco, na raia galega, concelho de Montalegre, mais a pedregosa e inacessível Gerês, espécie de " coroa " do singular Parque Nacional do mesmo nome.Há informação na "net " acerca deste tema, pouco fidedigna.
Deixo para os leitores, conhecimento verdadeiro das imponentes serras da minha terra, sem deixar referir na Pampilhosa há muitas elevações a que chamam "cabeços " com altitude superior a Serra de Sintra, da Arrábida ou Portel por exemplo ; caso para escrever do " mar de montanhas " de onde sai um dia, qualquer " onda " da orografia, a vista das "outras ondas" de igual jaez, por esse Portugal fora , são como as da praia do norte nazareno, comparadas com as das restantes praias lusitanas . Boa noite
O inverno demográfico que há quase um século assola concelho de Pampilhosa da Serra, provocou desaparecimento de sítios habitados, cuja memória e vestígios se perderam. Actualmente só trabalho de esforçada investigação de alguém, a exemplo de monge beneditino, embuido de assolapado carinho por coisas que ninguém cuida, consegue decifrar.
Até decada 30 século XX, nas cercanias de Pampilhosa da Serra existiu casal denominado Vale do Urso, onde se erguia uma casa albergando 5 moradores.
O nome conduz imaginário para a época em que estas paragens de terras pobres, vales profundos e encostas íngremes se cobriam de carvalhos, castanheiros, carqueja e urze.
Meio envolvente propicio à produção de mel, graças ao trabalho de milhares de enxames, formados de incansáveis "rezes" de gado do vento, assim chamavam as abelhas.
Os ursos adoram mel! Para protegerem os cortiços, os serranos construiram rodas, silhas ou malhadas, protegidas por altos muros de pedra solta para defender recheio das colmeias da gula daqueles animais, imperioso estar "a pau com os ursos" se não comiam tudo.
Vamos ao que viemos - Vale do Urso - onde ficava?
Actualmente a designação antiga, perdeu-se por corruptela, pessoas mais velhas, chamam-lhe: "Vale D`uce".
Este local encontramo-lo entre os sitios de Covancas e Meiosinho no arrabalde da Vila de Pampilhosa da Serra, não muito afastado de um outro, onde abundavam silhas ou malhadas de cortiços, as "Malhadas da Ribeira".
Não iremos ali encontrar ursos, com certeza javalis, as pessoas partiram há muito! Ficou o ermo, surgiram porcos que agora são uma praga!
Nos tempos da infância feliz passada nos cumes e vales das montanhas da Pampilhosa da Serra, algumas ocasiões ouvi falar de pescarias levadas a cabo na Ribeira que banha a vila, conhecida pela riqueza píscola das águas.
Se não me equivoco, pescava-se com linha, rede e tarrafas, "nassas" envenenando a corrente com uma pasta feita dos caules de trovisco esmagado, misturada com borralho da "fogueira" das lareiras casas de habitação, e para meu espanto também com dinamite, lançado para os poços ou pegos mais profundos, conseguindo pesca abundante. Enfim! "Uma barbárie", durante muitos anos pensei ser apanagio das gentes da região.
Apurei mais tarde por contacto com pessoas oriundas de outros rincões de Portugal, onde havia ribeiras e rios, o procedimento com algumas pequenas diferenças mas que faziam o mesmo.
Ainda não sabia, costume de pescar com dinamite, nos anos da ditadura do Estado Novo, era utilizado igualmente no mar como se depreende da noticia publicada no Diário de Noticias de Lisboa em Setembro de 1969, reproduzida pelo Jornal de Sintra, na edição de dia 13.
Afinal estava equivocado, o "mal" não residia unicamente, sitio onde nasci! Caso para pensar em 1969, com todos aspectos sociais económicos e políticos, Portugal era a nação mais atrasada da Europa Ocidental, por muito que custe, apesar das carências de toda índole caracterizavam, o Concelho de Pampilhosa da Serra, em diversos aspectos não divergia muito do restante País.