OS "BRAVOS " DOS PINHAIS INTERIORES
Não esqueço esforçados trabalhadores do tempo de menino,personagens importantes da Pampilhosa durante o século passado: os resineiros.
Quando chega o verão os incêndios aparecem, retorna imagem dos "povoadores do pinhal", onde com sangue suor e lágrimas arrancavam sustento das famílias, sujeitos a desenfreada exploração. Determinadas terras onde passo, é hábito perpetuar no espaço público, ofícios e ocupações que marcaram a história das localidades, pescadores, mineiros,arrancadores de cortiça, oleiros, almocreves etc. na Pampilhosa da Serra, não sucede ...
Na solidão do pinheiral, elemento importante na prevenção e combate a focos de incêndio, a lida promovia limpeza do terreno, para adequadamente extrair a resina, passagem por locais ermos permitia conhecer a zona exacta onde lavrava fogo assim possibilitava adequado combate, maioria das vezes através de contra fogo.
A resinagem e resineiros foram "alma" e prosperidade de actividade económica onde ganharam fortunas proprietários das fábricas de agua-rás e pez. Os donos dos pinhais os humildes "sangradores" dos pinos, ficavam com a côdea do "bolo".
Durante as décadas 30, 40 e 50 do século passado quotidiano da Pampilhosa estava impregnado de assuntos relativos a resina e pinhal.
Começava a campanha diziam andar na "descarrasca", consistia limpar o tronco onde seria a ferida ou sangria para "brotar" a seiva, caia no púcaro de barro, suportado em estaca de madeira, sobre o púcaro ficava cravada no pinheiro chapa metálica de forma curva: a bica, púcaro cheio procedia-se a "colha" com uma espátula, para recipiente metálico, a "ferrada" ou balde. Esta tarefa competia a mulheres, "ferrada" cheia, poisava na rodilha na cabeça, vazada em barris de madeira colocados nas veredas, carros de bois, transportavam a sítios onde já podia chegar camioneta que levava a fábrica "resineira".
Algumas ocasiões caminhando com a ferrada a cabeça as mulheres escorregavam na caruma, resina entornava-se no cabelo, e vai de cortar rente as tranças para se livrarem do pegajoso líquido. Infelizes ficavam sem belo adereço capilar, durante muito tempo. Uma dor de alma.
Estes trabalhos eram motivo de conversa a vida organizava-se conforme as tarefas a realizar nos pinheirais.
O estatuto de responsável pela exploração do pinhal, implicava ser detentor de carta de aptidão, obtida na frequência de 15 dias de aulas, numa escola de Candosa concelho de Tábua. Normalmente pagavam curso as resineiras, no fim mediante aprovação, passavam cartão de "comissário empreiteiro". Estes profissionais respondiam perante a fiscalização Estado pelo cumprimento das regras da lei de resinagem. .
Recordo resineiros que conheci, meus avós, meu pai, e tios, Ti António , marido da ti Laura da tenda, morava na minha rua, Ti Isac, Ti Laranjo, muitos outros cujo nome esqueci. Gente esforçada, sujeita a trabalho durissimo para granjear pão de cada dia. Praças rasas no "regimento" dos assalariados mais explorados de Portugal.
Antepassados que labutaram na faina da resina são credores de respeito, exemplo de sacrifício resistência e luta por vida melhor, não deve ser olvidado. Deixo referencia: mereciam fosse erigido na Pampilhosa, "memória" tal qual fizeram outras terras em honra do valor das classes laboriosas. Oxalá!