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aguadouro

Pampilhosa da Serra - Roteiro dum "futrica"

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Pampilhosa da Serra - Roteiro dum "futrica"

27.Dez.15

A família Cortez da Vila de Pampilhosa da Serra

Júlio Cortez Fernandes

 

Num dos últimos números do jornal Serras da Pampilhosa, lemos texto acerca de famílias da aldeia do Coelhal, freguesia de Pessegueiro do concelho de Pampilhosa da Serra. Sem pretender encetar qualquer género de polémica, porque o artigo contém apreciações, fantasiosas não fundamentadas relativamente a nossa família materna, irei simples e sucintamente, tentar esclarecer.

O apelido “Cortez” não “prolifera” na Pampilhosa, porque não resulta de qualquer “sementeira”, sim de sucessão familiar de três séculos. Escreveu o autor que o “Z” do apelido teve origem numa senhora vinda de Salamanca, que exercia a actividade de “cartomante”, teria casado com Pampilhosense, residiria nos arredores da vila,tudo suposições sem qualquer fundamento. Investigo há cerca de vinte anos, a história da minha família, trabalho difícil, mas compensador, permitiu conhecer o percurso da vida dos antepassados, sem lacunas, não encontrei felizmente, situações de “filho(a) de pai incógnito”, assim não falta nenhum elo. Vamos aos factos:

 Na igreja matriz da vila de Alvares, hoje no concelho de Góis, em 5 de Maio de 1719, contraíram matrimónio Simão Fernandes Barreiros da vila de Pampilhosa e Josefa Maria Cortez natural do lugar das Cortes freguesia de Alvares. Simão nasceu a 8 de Outubro de 1690,filho legitimo de António Fernandes e Inês Fernandes, proprietários de fornos para fabrico de telha, e comerciantes desse produto. Josefa, veio ao mundo a 2 de Março de 1699, filha legítima de Sebastião Pires e Isabel Simões, proprietários, lavradores e produtores de mel e cera.O apelido, por via deste casamento, surgiu na Pampilhosa. Simão Fernandes viria a falecer a 27 de Janeiro de 1763, Josefa Cortez a 4 de Agosto de 1771, ambos na sua casa, situada no sítio do “Barreiro” naquela vila. Deixaram larga descendência, conheço toda, para não ser fastidioso referirei apenas: Francisco Cortez nascido a 8 de Fevereiro de 1724 na Pampilhosa, viria a ser sacerdote, cura na igreja paroquial de São Simão de Pessegueiro, e António Fernandes Cortez, nascido a 14 de Maio de 1733, defunto a 9 de Novembro de 1790,também na Pampilhosa. Havia casado a 23 de Setembro de1773, na igreja matriz da vila com Isabel Bernarda Antunes, da aldeia de Signo-Samo, filha legítima de Vicente Antunes, daquela aldeia e Ana Antão do lugar da Póvoa. Isabel Bernarda viveu de 23 de Janeiro de 1738, a 21 de Março de 1809.

Do casamento houve geração, um dos filhos, António Fernandes Cortez, nascido a 4 de Junho de 1780, na Pampilhosa. Os padrinhos de baptismo foram, Rafael Homem e Dona Maria ali residentes. Por influência do padrinho ingressou aos 14 anos de idade, como soldado “de cavalo” no regimento de cavalaria de Castelo Branco, sob comando do coronel Carcome Lobo, cuja família administrava os bens da capela Real da Igreja de Nossa Senhora do Pranto. António Cortez cumpriu 20 anos de serviço militar, integrado no regimento de cavalaria 10 de Elvas, participou durante as invasões francesas no combate de Fonte de Cantos e Batalha de Albuera na Estremadura espanhola em 1811.Em Albuera o seu esquadrão fez a segurança pessoal do general Beresford, comandante supremo do exército aliado.

 Conforme especifica a “folha” militar, António, possuía cabelo ruivo e barba cerrada igualmente ruiva, olhos azuis, o que “bate” certo com a provável origem asturiana, dos “CORTEZ”.Contraiu matrimónio com Isabel Senhorinha, filha de Delfino José Soeiro, alferes reformado, do Regimento de Milícias de Vila Viçosa, e Antónia Joaquina. O enlace realizou-se na igreja paroquial de São Pedro, na cidade de Elvas, teor do assento:

“ Em seis de Junho de 1814, segunda-feira, nesta paroquial igreja de S. Pedro, por mandado do Excelentíssimo e Reverendíssimo senhor Dom José Joaquim da Cunha Azevedo Coutinho, bispo desta diocese eu António de Abrantes, recebi em matrimónio (…) a António Fernandes Cortez, solteiro furriel do regimento de cavalaria n-º10,natural e baptizado na freguesia de Nossa Senhora do Pranto, Bispado da Guarda, filho legítimo de António Fernandes e Isabel Bernarda Antunes, com Isabel Senhorinha, também solteira, baptizada na vila de Cascais Patriarcado de Lisboa, filha legitima do alferes Delfino José Soeiro, e de Antónia Joaquina, sendo ambos meus fregueses e estando preparados com os santos sacramentos lhes casei sendo testemunhas o tenente José Inácio Fernandes de Castro e Manuel Agostinho, e para constar fiz o presente, dia mês e ano supra”.

Nesta data Isabel Senhorinha estava órfã, o pai, na situação de reformado, faleceu a 22 de Outubro de 1812, o nascimento verificou-se, a 21 Dezembro de1762 em Elvas, a mãe natural de Évora, nasceu em 1771, faleceu a 6 de Maio de 1814, um mês antes do casamento da filha.

 Isabel, ao tempo de menor idade obteve autorização do bispo da diocese para casar. Havia nascido a 22 de Abril de 1795 na cidadela de Cascais, onde o regimento de infantaria de Elvas, a que pertencia Delfino, estava aquartelado no seguimento das campanhas do Russilhão. O marido nasceu na Pampilhosa, a 4 de Junho de 1780. Filha única, morava em casa propriedade da família na Rua dos Açougues.

 Os avós paternos eram: Timóteo José Soeiro, militar do regimento de Estremoz e Umbelina Rosa; maternos António Roiz e Francisca da Conceição. Deveria desfrutar de situação financeira desafogada, recebia pensão devida a filha de oficial, e também o alferes Delfino teve reembolso de soldos atrasados, cuja ordem de pagamento, veio após a sua morte, precisamente em Abril de 1814. Tudo somado, seria uma “conta calada”.

 António Cortez passou à situação de disponibilidade no posto de alferes, com soldo respectivo, decidiram residir na Pampilhosa. No dia 23 de Outubro 1815, nasceu o primeiro filho do casal, de nome Francisco, padrinho de baptismo, o tio, José Cortez Barreiros alferes da terceira companhia de ordenanças da vila de Álvaro.

António Cortez conseguiria o cargo de executor de testamentos (testamenteiro oficial). No tempo das lutas liberais tomou o partido de D. Miguel com o triunfo do liberalismo foi expulso do exército por ser “miguelista”, todavia, mais tarde viria a ser reintegrado; faleceu em 9 de Novembro de 1850.

Isabel Senhorinha morreu na Pampilhosa, a 19 de Maio de 1871.Viveu sem dificuldades, possuía casa na Rua da Misericórdia. O povo dizia ser tão “esquisita” que só comia pão-de-ló.

  Oriunda de Elvas cidade fronteiriça, talvez por isso, começou a circular a “lenda” que Isabel seria espanhola rendida aos “encantos” do ruivo, alferes Fernandes, provamos, ser bem portuguesa, como agora, diríamos afinal “menina de Cascais”. Não foi “cartomante”, segundo apurei, sim. excelente fiadeira e bordadeira.

 Isabel  Senhorinha , nossa  trisavó. Finalmente resta esclarecer, o apelido “Cortez” apareceu na aldeia do Coelhal, não pelo motivo evocado no texto, mas por via do casamento da filha de Isabel e António, Maria Cortez, nascida a 2 de Fevereiro de 1824,casou na igreja matriz da Pampilhosa a 20 de Dezembro de 1848, com Manuel Alves filho legítimo de José Alves e Joaquina Maria, todos naturais do Coelhal. Manuel, de profissão carpinteiro, faleceu em 1899, sendo viúvo, deixaram descendência,  o ramo familiar “Alves Cortez”.

 A família Cortez teve sempre ligação ao Coelhal. O nosso bisavô, José Cortez , filho de Isabel Senhorinha  e António Cortez, nasceu na Pampilhosa a 21 de Outubro de 1818, onde faleceu a 8 de Maio de 1887. Casou em primeiras núpcias com Joaquina Henriques, natural da Coelhosa. Enviuvou, a segunda mulher, Justina Rodrigues, natural da Telhada, freguesia de Alvares, com progenitores do Coelhal, o casamento, realizou-se na igreja matriz de Alvares.

Mãe do nosso avô materno Augusto Cortez, nascido a 11 de Maio de 1883, falecido a 9 de Dezembro de 1961 na Pampilhosa; que desposou Emília de Jesus Mota natural de Aldeia Cimeira, a 24 de Outubro de 1913. Emília nasceu a 10 de Abril de 1889, faleceu a 13 de Abril de 1973 em Lisboa. Pessoas do Coelhal foram caseiros de José Cortez nas propriedades que possuía, em Vale Covo, perto da Pampilhosa.

A família “Cortez”  relativamente abastada até aos meados do século XIX, devido a sucessivas partilhas  viu o património diminuir, no entanto, possuía um “bem”  diferenciador, os homens da família, ao longo de todo este tempo,  sabiam ler escrever, num País com 90% de analfabetos, valia muito.

Quanto à escrita do nome é com “Z”, porque não se pode alterar grafia original de um nome. “Cortês” é uma qualidade. Eis a realidade sem fantasias nem “lendas”.Concluímos esta reposição da verdade,informando que conhecemos alguma da história da família antes do nascimento dos pais de Josefa Maria Cortez,chegamos a finais do século XVI,um dia espero contar em livro,a publicar.